Tango, paixão e volúpia




A tarde improvável em que Tina conheceu Phil era mais um de seus troféus particulares. Ficava horas deitava na cama enorme, o livro esquecido em seu colo alvo, perdida em devaneios, a reviver, anos antes, o instante exato em que encontrou a paixão.
Não que fosse dessas mulheres noveleiras, que babavam por aqueles beijos cinematográficos, tão mal feitos quanto artificiais. De certa forma, era, sim, romântica. Mas preferia saborear uma paixão quente, que a fizesse dizer coisas tolas e ter o corpo tomado pelo êxtase de um intenso prazer...

Jamais se esqueceria daquela tarde, quando no meio do seu marasmo particular viu aquele homem estranho e atraente adentrando o saguão do hotel, seus passos decididos, o terno alinhado sob os ombros largos, as atitudes elegantes, o olhar seguro.
Tina se remexeu na cadeira, arrumando o cabelo quase escarlate, à espreita de ser notada pelo estranho. Viu-o sentar no banco do bar e pedir uma bebida ao barman, ao tempo em que ele fitava com seus olhos perscrutadores os outros ocupantes do estabelecimento.
Na mesa do canto Tina observava-o, interessada. Quando finalmente seus olhos se encontraram, uma espécie de magnetismo a atingiu, e ela começou a sentir as pernas tremerem um pouco. Sentia-se acuada por aquele olhar negro e intruso, que se repetia de quando em quando. Ela, por sua vez, mexia os cabelos soltos, querendo parecer que o ignorava.
Um tango começou a tocar e o bar do hotel ficou ainda mais envolto numa atmosfera de sedução. Phil bebericava seu whisky e lançava olhares mais demorados para Tina, que já a essa altura não escondia seu interesse.
Uma volúpia crescia naquele pequeno espaço cheio de mistério e possibilidade. Foi quando Phil levantou-se e, decidido, se dirigiu para a mesa onde estava a linda e solitária mulher de cabelos ruivos.
Fizeram amor a noite inteira, banhados pelo luar que se derramava pela janela, e Tina julgou ver luzes encherem seu cérebro a cada vez que o sentia em si. Lá pela madrugada, ainda exausta, Tina deitou seu olhar pelo corpo desnudo de Phil, que ressonava sob o lençol perfumado. Algo a intrigava. Sabia exatamente o que viveram ali naquele quarto de hotel. Lembrava das poucas horas antes, quando Phil sentou-se atrevidamente à sua mesa e lhe disse coisas tão sedutoras quanto indecentes.
Os dois riram alto e quando ela deu por si era tomada pelos braços musculosos de Phil e na língua quente e convidativa que invadiu sua boca.

Agora estava ali, olhando-o longamente. Nunca fizera algo assim antes. Mas bem que fora bom, uma aventura ao som de um tango e com um completo desconhecido. Que loucura! Mas não podia haver uma mistura mais explosiva: tango, paixão e volúpia. Ainda mais num bar de hotel em Buenos Aires.

Muitos anos depois ela se lembraria daquela tarde incomum, quando julgara ter encontrado a paixão.

Continua...
6 Responses
  1. Pê... BELA combinação!

    Tango e uma ruiva não poderia resultar em algo diferente, gostei :)

    [e a próxima sugestão de leitura é: Fim de Caso, do Graham Greene.]


    Beijos, querido ~


  2. Pê Sousa Says:

    Você tem toda a razão. Ruivas me trazem a imagem de um lugar bem singular, um tango como fundo musical e a possibilidade como ingrediente para uma tórrida paixão. Será coincindência que eu conheça justamente uma ruiva paulista?

    Hugs,


  3. Anônimo Says:

    Uau!
    Que belo texto, Pê!
    Realmente essa combinação é no mínimo excitante...
    Agora, que eu fiquei curioso pra essa continuação, fiquei!
    Congrats!
    Robson.


  4. Pê Sousa Says:

    Claro Robson,

    logo, logo vc acompanhará o desfecho desse imbróglio.

    Hugs.


  5. Gutor Says:

    Muito bomm!!
    Legal vc estar se enveredando em novas empreitadas literárias... Afinal, o conto nunca foi a sua principal forma de se expressar...

    Aguardo ansiosamente a continuação!

    Valeu, véi!


  6. Pê Sousa Says:

    É verdade... não que eu vá me "jogar" de vez neste gênero. Já temos ótimos nomes que engrandecem o conto.

    Flw


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