Eternal Friends





Folheando as páginas amarelas do meu exemplar d’Os três Mosqueteiros começo a pensar que fomos também (em algum dia do passado) inseparáveis. Três amigos que sonhavam conquistar o mundo.
Muitos anos distantes da velha França de Athos, Porthos e Aramis, Alberto, Jairo e eu construímos também dias de aventuras não menos emocionantes quanto os vividos pelas personagens do meu Dumas carcomido. Ainda que nossas epopeias fossem desprovidas de afiadas adagas e belas donzelas enclausuradas em palácios reais, também tivemos nossos instantes de pura epifania, movidos por vinhos baratos e amores platônicos. Nossos atos mais heroicos se deram não em duelos mortais ou batalhas sanguinárias, mas na coragem de sermos apenas os quase-cantores-escritores que conseguimos ser. E fomos mais felizes assim.
A amizade daqueles três exímios mosqueteiros estava acima dos mais altos valores, um código de ética que poucos eram capazes de compreender. Uma lealdade construída sobre os pilares da união, da camaradagem e do senso de justiça. A amizade que os unia era mais forte que a própria morte.
Mas, ainda que as páginas que tenho nas mãos tentem me levar para os tempos medievais da França do Antigo Regime, é nos meus companheiros de canções e café que penso agora. Penso sim nos dias que dividimos juntos, com o mesmo entusiasmo pela vida e seus mistérios, como os mosqueteiros de Alexandre Dumas. Penso, neste agora saudoso, nos nossos debates inúteis (nós nem sabíamos exatamente o que discutíamos) sobre a vida e suas filosofias, sobre Deus e a incredulidade de Alberto. Penso de forma elegíaca nas canções tristes que Alberto e Jairo (eu sempre fui o desafinado do grupo) extraiam dos seus violões. Eram músicas que tinham a nossa cara, exaltavam o sonho, a transcendência, o libertar-se, o amor oculto que se revela de repente.
Um leve sorriso brota de meus lábios. É a lembrança de Alberto, rindo de qualquer coisa, a sua flauta branca debaixo do braço, me trazendo, esbaforido, um novo conto que escrevera na noite anterior. A determinação e prática fizera-o ser mais do que eu próprio supunha ser: mais que o quase-escritor que acabei me tornando. E eu não sabia que um dia conheceria um escritor de verdade, ainda mais na sua fase inicial...
Por um instante imagino quantos milhares de pessoas deram boas gargalhadas com as trapalhadas de Athos, Porthos e Aramis em Os Três Mosqueteiros. E me atrevo a pensar se nossa vida, a minha e a dos meus dois amigos, Jairo e Alberto, com nossas mancadas próprias e projetos inconclusos, também não daria motivo para rir. Bem, isso eu jamais saberei. Mas ao menos algo ficou como legado de nossa convivência na nossa casa querida, a dos meus idílios. E isso certamente, eu creio, apenas eles entendem o que quero dizer.
2 Responses
  1. Gutor Says:

    Acho que estou muito emotivo esses dias. É o segundo texto q leio hj e me emociono...
    Muito bom, meu irmão

    Valeu véi


  2. Fábio Ronne Says:

    Amigos...
    Raros mas estou começando a crer que existem.


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