Sonho perdido



não foi esta a vida que sonhei: uma forma de existir desprovida de cor e diálogos. uma maneira de ser, de reencontrar, para depois perder, ainda mais intensa que antes. não foi assim que sonhei.
podia jurar que tudo fora construído para ser perfeito. que não teria tanto caos no meu pensar vago e interrupto. que a chuva não me faria sentir vontade de chorar (e assim fico). acreditaria que é apenas elucubração cada lembrança ruim trazida pelos grossos pingos que violentam o meu telhado. que o cheiro de molhado seria um convite a lavar minha consciência impura e néscia. que, embora distante, meu coração não se perderia, não perderia sua força ao menor sinal da avalanche sorumbática de todas as noites, noites de todos os sons...
esta, deveras, não é a vida que quis. repleta de garrafas vazias, de portaretratos espatifados, de receios grotescos. são caminhos tortuosos como poesia sem métrica, envolvidos em profundos meandros de dúvida e imensa constelação de erros vários. e era para ser? era assim que eu me perderia? que ficaria nauseado pelo ópio do medo, da palavra insegura engasgada como está? quimeras. e quem dera.
deveras! a vida que eu quis, não esta. mas um sonho bom, que me embala quando canso de ser eu mesmo...
1 Response
  1. Fábio Ronne Says:

    Ah quem dera escolher uma vida para ter... Mas pensando bem, seria um pouco sem graça. Não seríamos nós. Figiríamos ser.
    Adorei seu texto.


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