Frágil liberdade





Foi num dia azulado que Alberto me aponta uma multidão de bolhas pelo ar daquele dia quente. De forma profusa elas se espalhavam pelo ar numa dança ritimada pelo vento da manhã. Como imenso rebanho subitamente liberto, corriam para todas as direções, uma carreira louca e ao mesmo tempo sem destino certo, até que se evaporassem ante o implacável calor que nos fazia suar.
E como num transe eu pude mergulhar naquele mar ensaboado de bolhas felizes e tão fugazes. Elas como que me sussurravam que a vida estava ali, naquele instante, a passar. No exato momento em que me envolvia por problemas e falsas necessidades (coisas do mundo moderno) a vida sorria lindamente para aqueles que se permitiam contemplá-la. Não era ela a culpada por me sentir assim tão perdido num caldeirão invisível de cobranças e responsabilidades; não era a vida a responsável pelo mal humor que me desperta de manhã ou pelos desacertos de uma existência quase literária. Não! A vida sempre ensinou a liberdade. Ela própria se fez livre, me dando a opção de ser feliz quando eu mesmo me neguei isso. Sempre ensinou a vencer todos os preconceitos, a enxergar o semelhante por trás da máscara que ele colocou, ao sair de casa. E é assim que me sinto agora: como um alguém que desaprendeu a ser livre. E aquelas bolhas de sabão fugazes, fugidias, é que me despertaram para isso. Elas são a prova de quanto nos esquartejamos por conquistas inúteis, o quanto nos torturamos por amores que não nos pertecem. Ainda que sejam frágeis, eu sei que aquelas bolhas de sabão são mais felizes do que eu. De onde estão, podem ver a vida de um ângulo que eu não. E não se trata da altura de suas pretenções ou o quanto podem voar pelo céu. Mas da forma louca, varrida e despreocupada como se entregam ao sabor do vento, naquela manhã quente, quando Alberto me cutucou para que seguíssemos o nosso destino.
1 Response
  1. Gutor Says:

    Legal, escrevemos sobre o mesmo tema, cada texto com sua particularidade...
    Massa, véi

    valeu mano!


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