As aves negras






O homem está esquecido.
Ao seu redor apenas as aves negras,
os corvos obscuros girando, girando,
ameaçadores, mortais.

Guarnecidos de garras afiadas e bicos pontiagudos
fazem vôos rasantes,
tocam de leve a face estupefata do homem
que tanto errou.

As aves famintas, ruidosas, inquietas,
gemem de fome, exigem o que é seu:
a alma do homem só, vendido com seus erros,
vontade perdida do amanhã que nunca virá.

Por isso as aves.
Elas não seriam possíveis
sem que houvesse escuridão
e erros vários.

O homem, de um aposento a outro
tenta fugir, esconder-se.
Mas está fraco,
seu passo vacilante denuncia sua presença
para os pássaros negros que ameaçam esmiuçar-lhe o coração.

Num canto o homem se encolhe
e as aves cercam-no, cerceam-no.
O homem solitário implora por um instante a mais,
pede clemência, não quis errar tanto.

Seus olhos esbugalhados de pavor começam então
a chorar, chorar, eis a salvação:
as lágrimas que nunca vieram...

O home, esquecido a um canto adormece.
As aves, já satisfeitas, se vão.
Ao menos por hoje está salvo
nos braços do novo dia que o acolhe.


25/07/2004
00h38minA.M.

Blog Widget by LinkWithin