Confiteor I






Escrever nem sempre é a coisa mais fácil do mundo. Principalmente para pretenciosos quase-escritores como eu. Quando se desafia o mundo da idéia, da palavra e do sentimento, unido a tudo isso a fim de perpetuar um momento, uma lembrança ou um caos pessoal, às vezes atingimos objetivos até então considerados inexistentes por nós. Às vezes a palavra torna-se vilã, ao invés de encantar, de mostrar o mundo como o enxergamos.
Todo escritor é um contador nato de histórias e estórias. Não quero dizer com isso que quem escreve é mentiroso, enganador! Não! Acontece que muitas vezes é necessário alguns exageros - se é que posso defini-los assim! - a fim de dar um "tchan" a mais à narrativa, o que só torna o texto mais gostoso de se ler, fica mais divertido se embrenhar pela criação do escritor.
Eu me considero um pretensioso quase-escritor, contador de quase-histórias. O passado antigo serve-me de combustível para meus escritos amadores. Mas não estou tão interessado em sucesso, aplausos, fama, dinheiro. Me contentaria muito mais com um mero exemplar de algo escrito por mim, na minha estante. Isso com certeza me daria uma idéia de posteridade, de que fiz algo que vai ficar para outras gerações, ao menos isso. Como falhei nessa tentativa, me valho dos recursos do blog para expor idéias, sentimentos, quase-histórias e outras tentativas literárias, ainda que amadoras e pueris. Mas isso é importante para mim, pois é parte de mim, uma forma de pôr para fora tudo que sempre me sufocou e fez doer, e que hoje, graças a um novo estilo de vida, não tem peso nas minhas emoções.
Sim, é verdade, uma parte de mim está presente nestas linhas mal traçadas. Uma parte que foi realidade um dia, mas, como o próprio passado, foi sepultado com o passar dos tempos. Só restaram lembranças, que também vão se tornando menos nítidas, amarelecidas, como uma velha fotografia borrada. O que faço apenas é tentar - e sei que isso é algo impossível - mantê-las um tanto acesas.
De todas só uma lembrança me dói nesta vida que me acolheu: a do menino que um dia fui, guri inteligente, de uma sagacidade vivaz, feliz com sua infância renovada por cada manhã orvalhada que o acalentava. Este guri até então feliz, que teve as brincadeiras e sorrisos roubados pela dor da perda do lar, pelo profundo vazio a que foi condenado, pelos sonhos, todos banidos, dando lugar a uma sombria perspectiva de vida. A muitas custas esse guri tentou ainda emergir de dentro de mim, parecia que a qualquer momento o regurgitaria pela garganta afora, mas ele se reteve, se aquietou no poço de escuridão. E nunca mais voltou...
1 Response
  1. Unknown Says:

    guri, eterno guri é isso que vc se tornou , so que muito mais alegre e mais pertubado tambem e totalmente sarado!!!!


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