O fim



"Gessiner, você acha que vale a pena o amor?", eu perguntei. Ele me olhou de soslaio com seus olhos negros e profundos, cofiou por alguns intantes o bigode grisalho e disse naquela voz rouca que me fazia lembrar Al Pacino em O Poderoso Chefão: "Pablo, sempre vale a pena amar, por mais que isso nos custe". Na verdade, eu esperara que Gessiner, no alto de seus muitos anos de vida, fosse discorrer romanticamente sobre o amor e suas aventuras amorosas, ao invés da forma direta e sem rodeios como dissera. "Se existe algo que mereça ser cultivado nesta vida isso é o amor", foi o que disse ainda antes que eu mergulhasse nos meus pensamentos.
"Estou me referindo a amar uma mulher, Gessiner", disse explicando-lhe. "Aí é que está!", ele deu de ombros, e então se sentou novamente, os olhos perdidos em algum ponto da noite clara que iluminava seus cabelos ralos e brancos. Naquela altura eu desconfiava que Guessiner nada entendia sobre amar alguém, quanto mais uma mulher. E, além do mais, o que eu queria na verdade era potencializar a dor que rangia no meu peito. Punir-me pelo maior erro que já fizera, me castigar ainda mais pela idiotice que fizera na noite anterior. Estava desolado...

- "Escute, preciso te dizer algo importante", eu dissera.
- "O que foi? Aconteceu algo?", ela disse.
- "Eu não posso ser seu amigo. Na verdade, nunca quis ser seu amigo, por isso não podemos continuar nos falando, preciso me afastar de você..."
- "Mas por que? O que fiz? Eu disse algo que te magoou?", eu podia sentir pelo fone uma ponta de desespero.
- "Não, não é nada disso. Apenas não posso ser amigo da mulher que eu amo..."
- "Pablo, não..."
- "Olha Evelyn,eu sinto muito. Não quis que fosse assim, mas não posso continuar assim desse jeito; estou muito confuso com isso tudo, é demais para mim... me desculpe... eu... me desculpe".
Pude ouvir o som abafado de lágrimas. Evelyn chorava.
- "Por favor, Pablo..." ela hesitou um pouco, "eu sempre disse que não havia nada!", ela disse entre soluços. Alguns segundos e então completou:" Por favor, me deixe em paz! Deixe a minha vida em paz!" No instante seguinte, um clique e o fone ficou mudo. Fiquei segurando o fone mudo por um bom tempo antes de repô-lo no gancho. Uma estranha sensação começou a me invadir, era como se tudo tivesse desabado sobre minha cabeça, meu coração doía e me senti mais vazio do que nunca... Eu estava cheio de...nada.

"Você está se sentindo bem? Está tão calado, estranho", a voz de Guessiner me tirou do meu transe. "Sim, Guessiner, estou bem, apenas um tanto vazio...", disse-lhe levantando-me. "Ah, tudo bem", ele disse sacudindo a cabeça, mesmo sem entender nada do que se passava comigo. Pobre Guessiner, jamais compreenderia o que era sofrer por alguém que jamais o amaria...
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