Enlevo



Eu quero agora falar, sobretudo, de felicidade. Dizer que a simples menção do teu nome traz uma assombrosa inquietação; que tua falta se constitui em grave falha na minha existência. Quero, sobretudo, falar de uma forma desnatural as coisas da vida e do coração: dessa felicidade estranha que me toma todas as vezes que de longe te vejo; dos fortuitos sonhos que roubam-me a paz nas noites que suspiro teu cheiro; das maneiras diferentes em que me pus a declarar como, enfim, és única para mim.
Quero simplesmente lembrar da tarde incomum que brindou a vida com esse encanto de amor; do latente receio de nos olharmos, como se tivéssemos medo de dizer que há muito perdêramos esta guerra: nos tornamos vítimas dos nossos corações ávidos pelo amor esperado.
Quero tão sublimemente evocar uma das noites áureas que passei acordado, olhando as estrelas do céu que emolduravam toda uma casta de sonhos que ora nascia dentro de mim. Quero nessa hora vivificá-los, um a um. Quero, ainda, quem sabe, constranger-me por cada poesia que nunca pude te ofertar; na verdade faltava-me jeito de materializar em palavras toda a epifania que envolveu meu mundo. Na verdade, tinha os olhos perdidos no horizonte noturno, alheio ao barulho da noite caótica que me cercava.

Tivera eu nesse instante um momento de silêncio, de contemplação pela magia tão latente: estava cheio de enlevo, como se, em algum momento, isso tudo fosse se tornar poesia, viva poesia...

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