Noltalgia




Era noite alta, estávamos Alberto e eu sentados na varanda da casa, as xícaras já vazias. Um silêncio profundo nos envolvia e Alberto, até então imerso em seus pensamentos, disse de repente: "Sabe Pablo, outro dia estava me lembrando da velha casa, era bom aqueles tempos, não?" Sorri, recostando-me ainda mais na poltrona. "Sim, meu caro amigo, tudo foi bom. Aliás, até hoje revivo cada momento vivido na nossa new house". Uma estranha nostalgia vai me invadindo, ao lembrar daqueles tempos antigos do passado. A velha casa se fora levando consigo todos os momentos bons que havíamos vivido ali. Alberto pega o violão, até então esquecido junto à parede, e começa a tocar a velha canção conhecida:

"Olhos fechados, pra te encontrar,
não estou ao teu lado, mas posso sonhar..."

Fecho os olhos, ouço atentamente cada verso, ao tempo que um estranho enlevo enche aquele momento e a nós. "Alberto, meu caro, por que as coisas têm que ter fim um dia? Por que tudo ali na old new house se perdeu assim de repente?" Alberto, fazendo seu cacoete habitual toda vez que iria dizer algo muito sério, disse: "Olha Pablo, não será você que se perdeu e nem se deu conta disso? Um dia todos teriam que partir. Primeiro Jairo, depois eu. Só você insistiu em ficar." Alberto tinha razão. Todos um dia partiram, foram em busca de outros planos, outros sonhos, outros ideais. Parece que somente eu fiquei, como sombra do passado, preso na velha casa. "Também devo muito àquela casa e ao que foi vivido ali, mas tudo um dia teria que passar, virar passado, entende?", ele me disse. Balancei a cabeça concordando sem prestar muito atenção ao que Alberto dissera, na verdade estava mergulhado, imerso em pensamentos de saudade, as velhas lembranças eram alvo da minha atenção agora. "Fizemos tanto ali, experimentamos uma liberdade incrível, as músicas que compomos, as noites literárias e baratas, regadas a violão, café e waffer; as mulheres que amamos, tudo não mais será...", disse eu. Alberto se levantou, tocou o meu ombro e disse: "Ah, meu caro e saudoso amigo, sempre disse que você era um refém do passado, do seu passado. Mas tenho que concordar com você que também sinto muito falta daqueles dias memoráveis. Me lembro como Jairo era chato e insistente fazendo-nos treinar Taekwondo com ele. As madrugadas bêbadas ouvindo Walter Jackson e escrevendo nossas bobagens... Sim, meu caro, tudo aquilo foi importante para mim." Sorri. Alberto tinha razão. Tudo foi importante. Para todos nós. Sobretudo para mim, que continuo rememorando cada dia as tardes mornas em que sentava-me à sombra da castanholeira, olhando a rua vazia, como a que esperar. Na verdade eu esperava sim: esperava por um amor que jamais seria meu, esperava que aquela noite fosse perfeita. Mas, enfim tudo se foi. Apenas eu fiquei para suportar o vácuo trazido com o fim de tudo.

Alberto, como eu, estava quieto. Olhávamos para muito além, para o passado. E nós sabíamos perfeitamente porque...
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