Efemeridade




Não era necessariamente a falta de alguém que a angustiava. Mas um quê de saudade de quando ele chegava. Sempre dava um jeito de aparecer assim, meio que de repente, sem avisar. Sempre trazia alguma coisa nas mãos, às vezes uma flor escarlate, às vezes um novo poema seu para ela. E sempre com aquele sorriso largo, o rosto barbado e olhos enigmáticos e sedutores.
Sabia que os próximos dias seriam mais que especiais, tão diferentes do marasmo diário que curtia. Não! Todas as manhãs ela seria arrebatada por aqueles braços fortes num abraço de bom dia. E ficaria impressionada pelo café-da-manhã caprichado que ele preparara para a princesa de seu conto de fadas. Era assim que ele sempre se referia a ela: princesa do meu conto de fadas. Ela ria para si, lisonjeada com a maneira como era amada, assim, tão intensamente. Às vezes ficava olhando-o dormindo, o peito largo subindo e descendo sob o lençol perfumado. Aquela atitude meio maternal aumentava o anseio de viver assim para sempre, ao lado do seu querido.
Mas em poucos dias ele teria que partir novamente. Ela não teria braços fortes de bom dia, nem café pronto para o seu despertar. Por isso não se preocuparia em se arrumar, pentear os cabelos castanhos ou sequer pôr uma roupa mais arrumada. Seus dias cairiam num tédio terrível, e seu olhar se perderia até o fim da rua, onde costumava vê-lo aparecer de repente, o andar decidido, seu sorriso como luz irradiando a vasta noite, suas mãos cheias de carinho e promessas...
1 Response
  1. Começa-se assim, com narrativas curtas, e logo estarás a deslanchar palavras mais alongadas por sobre o papel, meu caro.

    Meu abraço.
    Continuemos...


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