Identidade






O café está um tanto amargo. Mas duvido que esteja assim mais do que eu mesmo, com minhas dores e desilusões. O horizonte não consegue dissipar a estranha sensação de fim que eu sinto. Um dia e mais nada...
Praticamente todos se foram. Mas uma sombra me persegue com insistente determinação. Novamente o legado do passado procura o acerto de contas deveras definitivo. Mas renuncio a qualquer trato. Seria o mesmo que dizer "não" a mim mesmo, ao tudo e nada que sou. Por isso corri para o banheiro, o espelho amarelo está lá para atestar que tenho razão! A imagem sinistra que vejo parece querer dizer algo, mas sua boca não se move, voz alguma se faz ouvir... Eu...
Se fosse possível renunciaria a tudo isso. Quem sabe uma súbita coragem pudesse dar-me força nessa hora negra. Mas compreendia que era inútil: esta é a prisão que eu escolhi, talvez a pior, de mim mesmo.
Uma densa camada de solidão toma a casa. Seria bom se Alberto pudesse vir, quem sabe tocar algumas de suas músicas, talvez mesmo aquela que tem a nossa cara. Isso! Seria bom mesmo, um pouco de vinho barato, conversa tola e algumas páginas de Kafka...

A xícara está inerte, esquecida sobre a mesa; o café já esfriou. Melhor botar um pouco mais. Preciso me aquecer. Precisar lembrar antes que eu me perca de mim mesmo, do meu passado.
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