Falta




Os meus olhos se perdem na imensidão do céu frio e estrelado. Mas a lembrança do teu abraço me aquece nesta noite em que tudo e nada têm importância. Aperto ainda mais os olhos, tento enxergar estrelas mais distantes, mas tudo o que consigo é ver um punhado de borrões na vastidão do espaço. Que extensão terá este vazio que me ameaça tragar?
No entanto, a noite está agradável. Uma leve brisa engrandece este momento de espanto e contemplação. Dostet longe está, mas não será seu rosto amado o que vejo entre as nuvens brancas que escorregam pela noite mágica? Ou será que de súbito a saudade começa a doer no meu peito?
O certo é que uma densa falta começa a me deprimir. E é irônico que num momento tão sublime falte algo! E então começo a desconfiar que jamais seremos de todo completos; nossa infortúnia existência será para sempre marcada pela falta de algo: algo para amarmos, algo em que nos apoiar, até mesmo algo capaz de nos fazer estúpidos e ridículos.
Numa noite como essa, tudo e nada está evidente. Mas dentro de mim uma falta latente me incomoda: meus olhos procuram, entre as muitas estrelas que me sorriem, a tua face querida. Um grito ameaça escapulir das minhas entranhas. Não é um grito de desespero, nem dor. Mas um grito de falta, da falta que tua presença causa.
Então, o que posso fazer? Talvez no lugar onde estás um céu assim te sorrie também. Talvez, como eu, estejas a contemplar a beleza do mistério da noite sem fim. Talvez no teu ínterim uma profunda falta ecoe de forma intensa também. E a única certeza que existe neste instante único é de que temos um ao outro, ainda que me falte, nesse instante, a tua presença desejada, querida Dostet.
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